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desenho António Rodrigues

Artur Pestana de Andrade

Andrade, Artur Pestana de (n. Funchal, 3 de nov. de 1927; m. Funchal, 13 de nov. de 1992), filho de Manuel Pestana de Andrade e de Teresa de Andrade, naturais de São Vicente, notabilizou-se como músico contrabaixista, professor, colector e arranjador. Iniciou a carreira de músico no final da década de 40 do séc. XX, época em que integrou a Banda Distrital do Funchal, “Os Guerrilhas”, até meados da década de 50, onde estudou e tocou clarinete e requinta, conforme mencionado nos manuscritos de nomeações de serviços para atuar em arraiais e concertos. Ainda nos finais dos anos 40 do séc. XX, iniciou os estudos de violino, sendo que entre 1949 e 1954 estudou Solfejo, Acústica, História da Música e Contrabaixo de Corda, na então Academia de Música da Madeira, como aluno externo, tendo recebido o “Prémio da Academia” pela classificação de 16 valores obtida nos estudos de contrabaixo. Na década de 60 do séc. XX, estudou Harmonia (hoje Composição) com o professor capitão Gustavo Coelho. Nos finais dos anos 70 e nos anos 80 aprofundou os estudos de contrabaixo de corda, com o professor Alex Oliva e a colaboração do contrabaixista Adriano Aguiar, tendo concluído o Curso Superior de Contrabaixo pela Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa, em 1986, cujo exame final foi acompanhado ao piano pela professora Olga Prats.

Foi professor de “Formação Musical” e de “Contrabaixo de Corda” no Conservatório de Música da Madeira (CMM) desde a década de 70 do séc. XX até 1992, ano em que faleceu. Foi membro da Comissão Administrativa do CMM, em 1977, ano em que a então Academia de Música e Belas Artes da Madeira passou a designar-se de Conservatório de Música da Madeira (hoje, Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira – Eng.º Luiz Peter Clode, desde 2004).

Com a carteira de músico profissional como Instrumentalista de Contrabaixo de Corda desde 1953, integra orquestras de música para dançar e de music-hall, com destaque para o trio “Jesse and his Boys” (Zeca da Silva, piano, Fernando Olim, Artur Andrade, contrabaixo), “Zeca e o seu Trio” (o mesmo trio a quem depois se juntou Tony Oliveira, bateria e voz), o “Conjunto de Tony Amaral” (década de 60), o “Bossa Trio” (1976), que animaram as noites da Madeira em hotéis como o Reid’s, Miramar, Santa Maria, Buganvilia, no Casino da Madeira, e na discoteca Flamingo.

Nos anos 50 do séc. XX, com “Zeca e o seu Trio”, faz digressão em Portugal Continental e África, tendo atuado também a bordo de navios. Em Lisboa, este agrupamento musical participou no espetáculo da festa de encerramento do Concurso “Milionário – 1956”, no cinema Império, apresentado pelo seu organizador Mário de Meneses Santos, onde foram figuras de cartaz ao lado do pianista Shegundo Galarza, do acordeonista alemão Heinz Worner, e do quarteto espanhol “Los Galindos” com Luiza Linares. Foi ainda cartaz no Casino Estoril, e no conceituado bar-restaurante “Ronda”, (Monte Estoril), que em 1957 inaugurou a primeira boîte da Linha do Estoril. No continente africano, atuaram na África do Sul, Rodésia (hoje Zimbabué), em Angola, Luanda, e em Moçambique, onde se estrearam na “Taverna do Girassol”(Hotel Girassol), em Lourenço Marques (hoje Maputo), a 5 de janeiro de 1960.

No âmbito da imprensa regional, Artur Pestana de Andrade teve um papel relevante na fundação do semanário Comércio do Funchal, que ficou conhecido em todo o país pelo “jornal cor-de-rosa” (por ser impresso em papel rosa) após ter adquirido, a 1 de janeiro de 1967, os direitos de publicação daquele periódico a João Carlos da Veiga Pestana, em acordo firmado no Casino da Madeira, no final de uma noite de espetáculo do “Conjunto de Tony Amaral”, que então integrava. Recorda Victor Rosado:

Em determinada altura o Artur [Pestana] Andrade veio do Casino e, ao chegar à agência [a Foco, de Vicente Jorge Silva, Artur Pestana de Andrade, Victor Rosado, Santa-Clara, Luís Manuel Angélica…] diz-nos que o proprietário do Comércio [do Funchal], jornal que já existia, com uma tiragem reduzidíssima, estava interessado em passar a sua efetiva direção e administração e Artur achou a ideia interessantíssima e viu que era uma oportunidade excelente de podermos dar continuidade a toda uma movimentação de esforços de que as páginas, os encontros, os filmes, eram exemplo. Ficamos contentíssimos. O Vicente Jorge Silva, que foi sempre o impulsionador de quase todas as iniciativas, pulava de alegria. (transcrito do blogue “Estudos sobre o comunismo” de José Pacheco Pereira, que cita, por sua vez, o blogue “Almocreve das Petas” de José Manuel Martins).

No plano sociopolítico, em 1969 (ano em que o advogado Fernando Rebelo concorreu, pela Madeira, às eleições para a Assembleia Nacional nas listas da Oposição Democrática), Artur Pestana de Andrade foi um dos 39 subscritores (o 1º subscritor foi António Egídio Fernandes Loja), da Carta a um Governador, documento que exigia Autonomia para o arquipélago da Madeira, dirigido a Braamcamp Sobral, governador do então Distrito da Madeira.

Em 1972 e 1973 participou, conjuntamente com o historiador António Aragão, e com Luís Alberto Silva (técnico de som), em sistemáticas recolhas da música tradicional e do cancioneiro regional da Madeira, daí resultando mais de 50 horas de gravação. Esses registos têm inspirado alguns ranchos folclóricos da RAM “que os utilizam como fonte para constituição do seu repertório”(CASTELO-BRANCO, 2010, I, 42). Colecionou, de igual modo, instrumentos musicais construídos na Região, constituindo um acervo de grande valor patrimonial (“Museu Virtual: Artur Pestana Andrade”). Do levantamento etnomusical realizado, que tem uma importância ímpar para a divulgação e preservação da cultura tradicional da Madeira e do Porto Santo por ser o primeiro registo da tradição disponível, foi editado, em LP, Cantares e Música da Madeira, em 1982, pela Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC). Na segunda metade dos anos 90 do séc. XX foram editados pela Bis-Bis – DRAC, em suporte CD, seis registos de diferentes concelhos da Região Autónoma da Madeira (RAM), intitulados de Música Tradicional da Madeira. Em 1996, saem os temas relativos a Machico (Caniçal); à Ribeira Brava e a Santana; em 1998, são lançados os temas referentes a Machico (Porto da Cruz); à Ponta do Sol e ao Porto Santo.

Nos anos 80 integrou a então Orquestra de Câmara da Madeira (desde 1998, Orquestra Clássica da Madeira) e a Orquestra de Música Antiga, do então Gabinete Coordenador de Expressão Artística (hoje, Direcção de Serviços de Educação Artística e Multimédia). Em 1988, fundou o quinteto “Madeira Ensemble”, agrupamento musical residente do Casino Park Hotel. Além de Artur Andrade (contrabaixo), o quinteto integrava os professores e músicos João Atanásio (piano), Zita Gomes (violino e viola de arco), Agostinho Henriques (violoncelo), José Pereira (tenor). Integraram também o “Madeira Ensemble”, o então aluno do conservatório Norberto Gomes (violino), hoje diretor artístico e concertino da Orquestra Clássica da Madeira (OCM), Fernanda Gomes (violino), Luís Andrade (violoncelo), e Duarte Andrade (piano).

Em 1985, 1986 e 1987, proferiu várias conferências sobre a música tradicional da Madeira a convite de Escolas da RAM, nomeadamente na Escola de Hotelaria da Madeira, e no âmbito da atividade cultural “12 Horas de Música”, na Escola Secundária Francisco Franco.

Como compositor, Artur Pestana de Andrade, participou em várias edições do Festival da Canção Infantil (com letras de Irene Lucília e de Maria Aurora), tendo obtido, em 1988, o prémio da “canção vencedora” e de “Melhor Música”, com “A Escola” interpretada por Luís Andrade, seu filho, então com 9 anos, hoje maestro e instrumentista (violoncelo), membro efetivo da The Netherlands Symphony Orchestra.

Artur Andrade promoveu a vinda à Região Autónoma da Madeira de nomes consagrados da música clássica a nível nacional, entre os quais, Sequeira Costa, Maria João Pires, Olga Prats e Anabela Chaves.

Em 1989, foi distinguido pelo Governo Regional da Madeira “pelo seu valioso contributo às letras” na Região Autónoma da Madeira.

Artur Pestana de Andrade colaborou em diferentes programas de cariz cultural na RDP e na RTP da Madeira, e no Diário de Notícias do Funchal, onde foi colunista no suplemento semanal para crianças “Diário da Malta do Manel”, com a rubrica “Música” (fevereiro de 1988 a novembro de 1992), onde publicou factos relacionados com a vida e a obra de figuras de vulto da História da Música, bem como factos relevantes da tradição madeirense, e, nesse mesmo suplemento para os mais jovens, iniciou a publicação da rubrica “Bilhete-Postal” (1991 e 1992).

Fonte: Dicionário Enciclopédico da Madeira (Entrada: António Rodrigues)

Bibliografia de apoio:

CASTELO-BRANCO, Salwa (dir.), Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, A – C, 1ª ed., 4 vols., Lisboa, Círculo de Leitores (Temas e Debates), 2010.

CALISTO, Luís, “Democratas madeirenses entregaram documento ‘subversivo’ ao governador”, Diário de Notícias – Madeira, 21 de abril de 1994.

Sítios da Internet:

“Museu Virtual: Artur Pestana Andrade” (blogue). Disponível em: http://www.museuapa.com/en/2012/04/25/82/ (consultado a 5 de setembro de 2014)

“Estudos sobre o comunismo – os movimentos radicais da esquerda e a oposição ao Estado Novo” (blogue de José Pacheco Pereira) “O Jornal Comércio do Funchal”, postado a 7 de abril de 2004. Disponível em: http://estudossobrecomunismo2.wordpress.com/2004/04/07/o-jornal-comercio-do-funchal/ (Consultado a 5 de setembro de 2014)

“Restos da Colecção” (blogue de José Leite). Disponível em: http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2013/09/clubs-nocturnos-de-lisboa.html (Consultado a 5 de setembro de 2014)

Documentos consultados:

Cédula de matrícula do Conservatório Nacional, Secção da Madeira, Processo n.º 7424. Surge referenciado como aluno “externo” nos anos letivos de 1949-1950, matrícula n.º 315 (1º, 2º e 3º anos de “Solfejo” e 1º e 2º anos de “Português”); 1951 – 1952, matrícula n.º 454 (1º e 2º anos de “Acústica” e “História da Música”; 1953-1954, matrícula n.º 383 (1º e 2º anos de “Contrabaixo de Corda”), em cuja página de ‘Observações’ se pode ler: “1) Aluno da Academia de Música da Madeira; a) Exame Singular do 2º ano do Liceu.”

Manuscrito de nomeações de serviços para atuar em arraiais e concertos da Banda Distrital do Funchal, “Os Guerrilhas”, em 14 de agosto de 1949 e meses seguintes, e nos anos de 1950 e 1951, onde surge mencionado com o sobrenome “Andrade”, na posição de músico clarinetista.

Carteira Profissional – Sindicato Nacional dos Músicos, n.º 975, emitida em 10 de setembro de 1975, titular: Artur Pestana de Andrade, Sócio n.º 3038, Grupo de atividade: Execução; Profissão: Instrumentalista de Contrabaixo de Corda; Averbamento: titular inscrito em 1953 (averbado em 4 de jul. de 1975).

Cartão de Sócio, n.º 1283, da “Banda Distrital do Funchal, Artístico Madeirense”, de 14 de setembro de 1955.

Programa do Concerto e Exposição em Homenagem a Artur Pestana de Andrade, realizado no Teatro Municipal Baltazar Dias, 29 de dezembro de 2007, organização Funchal 500 anos.

Fotografia Vicentes, 1 de maio de 1951, da Banda Distrital do Funchal, “Os Guerrilhas”, que figura na sala de ensaios da sede referida banda.

Anúncio com fotografia do conjunto ‘Zeca e o seu Trio’, “Diário de Lourenço Marques”, de 5 de janeiro de 1960.

Discografia: (1982) Cantares e Música da Madeira. DRAC (LP); Andrade, Artur Pestana; Aragão António (compil.) (1996) Música Tradicional da Madeira: Machico (Caniçal). Bis-Bis-DRAC; Andrade, Artur Pestana; Aragão António (compil.) (1996) Música Tradicional da Madeira: Ribeira Brava. Bis-Bis-DRAC; Andrade, Artur Pestana; Aragão António (compil.) (1996) Música Tradicional da Madeira: Santana. Bis-Bis-DRAC; Andrade, Artur Pestana; Aragão António (compil.) (1998) Música Tradicional da Madeira: Machico (Porto da Cruz). Bis-Bis-DRAC; Andrade, Artur Pestana; Aragão António (compil.) (1998) Música Tradicional da Madeira: Ponta do Sol. Bis-Bis-DRAC; Andrade, Artur Pestana; Aragão António (compil.) (1998) Música Tradicional da Madeira: Porto Santo. Bis-Bis-DRAC. (CASTELO-BRANCO, 2010, I, 42).